A batalha jurídica do ex-jogador Robson de Souza, o Robinho, ganhou mais um capítulo nesta sexta-feira (6). A defesa do ex-atacante da Seleção Brasileira ingressou com um novo recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de anular a decisão que autorizou a execução, no Brasil, da pena imposta pela Justiça italiana.
Condenado a nove anos de prisão por estupro coletivo, ocorrido em 2013, Robinho teve sua sentença reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2023. Agora, seus advogados sustentam que essa homologação seria inconstitucional, abrindo um novo debate sobre a aplicação de tratados internacionais, a soberania brasileira e os limites da cooperação penal entre países.
Anúncio. Role para continuar lendo.
Relembre o Caso — De Ídolo do Futebol à Condenação na Itália
A Noite em Milão que Mudou Tudo
O caso teve origem em 2013, quando Robinho jogava pelo Milan, um dos clubes mais tradicionais da Itália. Na noite do crime, o ex-jogador e amigos participaram de uma festa em uma boate na cidade de Milão. Uma jovem albanesa denunciou que foi embriagada e estuprada em grupo, sem qualquer possibilidade de defesa.
A Justiça italiana investigou o caso por vários anos e, em 2017, Robinho foi condenado em primeira instância. Após sucessivos recursos, a condenação foi confirmada pelo Tribunal de Cassação em janeiro de 2022, tornando a decisão definitiva e sem possibilidade de nova apelação na Itália.
Constituição Brasileira e o Impedimento da Extradição
Um ponto crucial da polêmica gira em torno da Constituição Federal brasileira. Segundo o artigo 5º, inciso LI, “nenhum brasileiro será extraditado”. Isso significa que, mesmo condenado no exterior, Robinho não poderia ser enviado à Itália para cumprir pena.
Diante disso, o governo italiano solicitou a transferência da execução da pena para o Brasil, baseando-se em acordos de cooperação internacional. Em março de 2023, o STJ homologou a sentença italiana, permitindo que Robinho cumprisse a pena de nove anos em território brasileiro.
A equipe jurídica de Robinho, ao apresentar o novo recurso ao STF, baseia sua argumentação em dois principais pontos:
Violação do Decreto nº 862/1993 Esse decreto trata do Tratado de Cooperação em Matéria Penal entre Brasil e Itália. Segundo os advogados, o tratado não prevê de forma explícita a possibilidade de o Brasil executar penas impostas por tribunais estrangeiros, o que tornaria a decisão do STJ inconstitucional.
Retroatividade Legal Indevida A defesa sustenta que a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), que permite esse tipo de transferência, não pode ser aplicada retroativamente, já que os fatos ocorreram em 2013. Assim, qualquer uso dessa legislação no caso de Robinho configuraria violação do princípio da legalidade penal.
STF Avaliará o Novo Pedido — O Que Está em Jogo?
O Supremo Tribunal Federal ainda irá analisar o novo recurso, mas os desdobramentos podem ser significativos. Caso o STF acate os argumentos da defesa, a homologação da sentença italiana pode ser anulada, o que abriria caminho para a revisão da prisão de Robinho.
Esse possível desfecho não significaria impunidade automática, mas levantaria dúvidas sobre o que o Estado brasileiro poderia fazer em relação a uma sentença estrangeira definitiva.
Transferência de Pena ou Extradição? Entenda a Diferença
O Que É Transferência de Execução Penal?
Diferente da extradição, a transferência de execução penal não implica no envio do condenado ao país estrangeiro. Trata-se de um mecanismo legal que permite a um país aplicar, em seu território, a pena imposta por outro Estado. Isso se dá, geralmente, com base em acordos bilaterais ou multilaterais.
Esse tipo de cooperação é comum em casos de crimes transnacionais e tem como objetivo evitar a impunidade de cidadãos que cometem crimes no exterior, mas retornam ao seu país de origem antes do julgamento.
O Impacto Social e Jurídico do Caso Robinho
Um Debate Além dos Tribunais
O caso Robinho transcende o aspecto jurídico e atinge diretamente o debate público sobre violência sexual, impunidade e direitos das mulheres. A homologação da sentença italiana foi, em sua maioria, bem recebida por movimentos feministas e defensores dos direitos humanos.
Por outro lado, setores da sociedade enxergam na retroatividade da lei e na ampliação do alcance da cooperação penal internacional uma ameaça à segurança jurídica e à proteção de garantias constitucionais.
A Repercussão Internacional
A condenação de Robinho na Itália foi amplamente divulgada na imprensa internacional, manchando a imagem do ex-jogador, que já vestiu a camisa da Seleção Brasileira em duas Copas do Mundo. O caso também se tornou símbolo do compromisso europeu em combater crimes sexuais, especialmente em contextos envolvendo figuras públicas.
Ao aceitar cumprir a sentença no Brasil, o país se coloca em uma posição de destaque no cenário jurídico internacional, mostrando que não se furtará a aplicar decisões estrangeiras quando estas forem respaldadas por tratados e respeitarem os direitos do condenado.
O Futuro de Robinho — Possibilidades e Consequências
Diante do novo recurso, o futuro de Robinho permanece indefinido. Caso o STF mantenha a homologação, o ex-jogador seguirá preso e cumprirá sua pena no sistema penitenciário brasileiro. Caso contrário, sua liberdade poderá ser restaurada, o que não significa automaticamente a extinção da pena — apenas o questionamento da forma de execução.
Em qualquer dos cenários, o caso servirá como precedente importante para situações futuras envolvendo brasileiros condenados no exterior, pressionando o Judiciário e o Executivo a estabelecerem diretrizes mais claras sobre a cooperação penal internacional.
Conclusão
O caso Robinho é mais do que a história de um ídolo do futebol que se viu no centro de uma grave acusação criminal. Ele representa um marco no direito internacional penal aplicado no Brasil, testando os limites da cooperação jurídica entre Estados, o respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos e o combate à impunidade.
Enquanto o Supremo Tribunal Federal não emite uma decisão definitiva, a sociedade observa atentamente, dividida entre a exigência de justiça e a necessidade de preservar princípios constitucionais. O desfecho dessa disputa pode redefinir o modo como o Brasil lida com crimes cometidos por seus nacionais fora de suas fronteiras.
Nós utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continua a usar este site, assumimos que você está satisfeito.Ok