Real ganha força em meio a expectativa de pacote fiscal e cenário internacional misto
O mercado financeiro brasileiro encerrou a primeira semana de junho com um movimento que chamou a atenção de investidores e analistas: o dólar fechou esta sexta-feira (6) cotado a R$ 5,5701, atingindo o menor patamar desde 8 de outubro de 2023, quando foi negociado a R$ 5,5334.
O recuo da moeda norte-americana ocorre apesar de uma valorização global do dólar frente a outras divisas emergentes. O desempenho positivo do real chama ainda mais atenção considerando esse cenário adverso no exterior.
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Queda do dólar: fatores internos e externos que influenciaram o câmbio
Cenário interno: o peso das expectativas fiscais
Um dos principais motores da valorização do real nos últimos dias foi a expectativa crescente de um novo pacote fiscal a ser anunciado pelo governo federal. O mercado tem reagido positivamente a rumores de ajustes no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e outras medidas voltadas ao equilíbrio das contas públicas.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou que pode apresentar ainda neste mês um conjunto de ações voltadas para o aumento da arrecadação e redução de despesas, numa tentativa de atender às metas fiscais previstas no novo arcabouço fiscal.
Especialistas apontam que a percepção de um governo mais comprometido com a responsabilidade fiscal tem trazido maior confiança ao mercado, reduzindo a pressão sobre o câmbio.
“O mercado está reagindo ao possível anúncio de medidas que tragam previsibilidade ao cenário fiscal. Isso tende a atrair fluxo estrangeiro e valorizar o real”, afirma o economista Roberto Simonetti, da consultoria Atlas Investimentos.
Cenário externo: dólar forte, mas com espaço para correções
Enquanto o real se valoriza, o dólar tem mostrado força globalmente. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, apresentou ganhos durante a semana, impulsionado por dados robustos da economia americana.
O mercado internacional segue atento aos sinais do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, sobre o futuro da política de juros no país. A perspectiva de manutenção de juros elevados por mais tempo mantém a moeda americana fortalecida frente a divisas como o euro e o iene.
No entanto, no Brasil, o fluxo cambial foi suficiente para reverter a tendência e garantir a queda da cotação.
Desempenho semanal e acumulado no ano: Real se destaca
No acumulado desta semana, o dólar registrou uma queda expressiva de 2,63%, demonstrando força do real frente a outras moedas emergentes.
No ano, a desvalorização da moeda norte-americana já chega a 9,85%, segundo dados da B3 e do Banco Central.
Este desempenho coloca o real entre as moedas emergentes com melhor performance em 2025 até o momento, superando pares como o peso mexicano e o rand sul-africano.
Período
Variação do Dólar
Dia
-0,30%
Semana
-2,63%
Acumulado no ano
-9,85%
Ibovespa opera com cautela e fecha a semana no vermelho
Enquanto o dólar recuava, a bolsa brasileira apresentou um comportamento mais contido. O Ibovespa, principal índice de ações da B3, fechou o dia com leve baixa de 0,08%, aos 136.131,96 pontos.
Na semana, o índice acumulou perda de 0,65%, refletindo a postura cautelosa dos investidores diante das incertezas fiscais e da revisão nas projeções para a taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.
Principais fatores que pressionaram o Ibovespa:
Incertezas sobre o tamanho e os detalhes do pacote fiscal;
Expectativa sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nas próximas semanas;
Realizações de lucros após altas recentes no mercado de ações;
Acompanhamento dos dados de inflação nos Estados Unidos, que podem influenciar as próximas decisões do Fed.
Destaques do pregão:
Setor financeiro: Oscilou com incertezas sobre a Selic;
Commodities: Empresas ligadas ao minério de ferro e petróleo tiveram desempenho misto;
Varejo e consumo: Sofreram com revisões nas projeções de crescimento econômico.
O que esperar para os próximos dias?
Com o mercado financeiro cada vez mais sensível aos desdobramentos fiscais, a expectativa agora se volta para os detalhes concretos do novo pacote econômico do governo.
Além disso, o foco dos investidores também estará nas próximas divulgações macroeconômicas, como:
IPCA de junho: Dados oficiais de inflação serão divulgados na próxima semana;
Decisão do Copom: Prevista para o final do mês, com expectativa de manutenção ou leve redução na Selic;
Reuniões do Fed e Banco Central Europeu (BCE): Que podem trazer novos direcionamentos para o dólar globalmente.
Especialistas recomendam cautela para quem opera no mercado de câmbio ou ações nas próximas semanas, dada a volatilidade esperada.
Como o câmbio afeta o dia a dia da população?
A variação do dólar tem impactos diretos e indiretos na vida dos brasileiros. Entre os principais efeitos estão:
Impactos imediatos:
Viagens internacionais: Com o dólar mais baixo, os custos de passagens, hospedagens e compras no exterior tendem a cair.
Importados: Produtos como eletrônicos, peças de carro e outros itens importados podem ficar mais baratos.
Combustíveis: O dólar influencia o preço da gasolina e do diesel, já que o Brasil importa parte dos combustíveis.
Impactos a médio prazo:
Inflação: Uma queda do dólar pode ajudar a conter a inflação, especialmente nos produtos com componentes importados.
Taxa de juros: Um real mais forte reduz a pressão inflacionária, o que pode influenciar futuras decisões do Banco Central em relação à Selic.
Conclusão: Um cenário de alívio, mas com cautela
Embora a queda do dólar represente um respiro para a economia brasileira e um alívio para consumidores e empresários, o cenário ainda exige atenção e monitoramento constante.
As próximas semanas serão decisivas para avaliar se essa tendência de valorização do real será sustentável ou apenas um movimento pontual, reflexo das expectativas em torno do pacote fiscal.
Para os investidores, o momento pede diversificação de carteira, avaliação de risco e acompanhamento próximo das decisões políticas e econômicas no Brasil e no exterior.
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