O Brasil se despede de um de seus maiores ícones da teledramaturgia. Francisco Cuoco, o eterno galã que marcou gerações com seu talento e carisma inigualáveis, faleceu nesta quinta-feira, 19 de junho, aos 91 anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A triste notícia, confirmada pela família do ator, encerra uma trajetória de mais de seis décadas dedicadas à arte, deixando um legado imensurável para a televisão, o teatro e o cinema brasileiros.
A causa da morte, segundo nota divulgada pela assessoria, foi falência múltipla dos órgãos, um desfecho natural para os problemas de saúde decorrentes da idade avançada que Francisco vinha enfrentando com a mesma dignidade que pautou sua vida e carreira. A comoção pela sua partida é sentida em todos os cantos do país, nas redes sociais, nas ruas e nos corações daqueles que, por tantos anos, foram cativados por sua presença marcante na tela.
Das Ruas do Brás aos Palcos e Estúdios: O Início de uma Paixão
Nascido em 29 de novembro de 1933, em São Paulo, Francisco Cuoco era filho de Leopoldo Cuoco, um vendedor italiano, e de Antonieta, uma dona de casa. Sua infância no tradicional bairro do Brás, na capital paulista, foi marcada pela simplicidade e, curiosamente, pela fascinação que o circo exercia sobre ele. O picadeiro, muitas vezes armado em frente à sua casa, foi o primeiro palco de sua paixão pela arte, um presságio do destino brilhante que o esperava.
Embora tenha trilhado os primeiros passos em outra profissão antes de se dedicar integralmente à atuação, a veia artística de Cuoco sempre pulsou forte. Ele iniciou sua carreira profissional no teatro, uma escola fundamental que lhe concedeu a base para a versatilidade e a profundidade que viriam a ser suas marcas registradas. A disciplina e o rigor do palco moldaram o ator que, posteriormente, dominaria as telas com uma presença magnética.
O Salto para a Televisão e a Conquista do Brasil
Foi na televisão, a partir da década de 1960, que Francisco Cuoco alcançou o estrelato e se tornou um nome familiar para milhões de brasileiros. Sua estreia na Rede Tupi, seguida por sua migração para a Rede Globo, marcou o início de uma era de ouro para a teledramaturgia nacional. Cuoco não era apenas um galã; ele era um ator completo, capaz de transitar com maestria entre os mais diversos gêneros e perfis de personagens.
Sua figura imponente, seu olhar penetrante e sua voz marcante o tornaram rapidamente um dos atores mais requisitados e amados do país. Ele personificou o “homem forte”, o “herói sofredor”, o “galã romântico” e até mesmo o “vilão sedutor”, sempre imprimindo uma autenticidade e uma verdade que o diferenciavam. A cada papel, Francisco Cuoco mergulhava na alma de seus personagens, entregando atuações que se tornaram aulas de interpretação.
Uma Galeria de Personagens Inesquecíveis
A lista de personagens interpretados por Francisco Cuoco ao longo de sua extensa carreira é um verdadeiro tesouro da teledramaturgia brasileira. Ele deu vida a figuras icônicas que se enraizaram no imaginário popular, protagonizando tramas que paravam o país.
- Cristiano Vilhena em Selva de Pedra (1972): Talvez um dos seus papéis mais emblemáticos, Cristiano era o jornalista honesto e ambicioso que se mudava do interior para a cidade grande, enfrentando dilemas éticos e morais. A novela foi um fenômeno de audiência e consolidou Cuoco como um astro nacional.
- Lucas em Pai Herói (1979): Neste papel, Cuoco interpretou um homem em busca da verdade sobre o pai, em uma trama complexa e emocionante que explorava os laços familiares e os segredos do passado. Sua atuação foi elogiada pela intensidade e profundidade.
- Alexandre Cantomas em O Astro (1977): Um dos maiores sucessos de Janete Clair, onde Cuoco brilhou como um ator decadente, mas cheio de mistérios e carisma. Sua interpretação lhe rendeu grande reconhecimento.
- Dominguinhos em De Corpo e Alma (1992): Em um de seus últimos grandes papéis de destaque, ele viveu um homem maduro que se envolvia com uma jovem, mostrando sua versatilidade em abordar temas contemporâneos.
Além dessas, participou de dezenas de outras novelas e minisséries, como Pecado Capital (1975), Duas Vidas (1976), Brilhante (1981), Eu Prometo (1983), Rainha da Sucata (1990), América (2005) e sua última participação em novelas, Deus Salve o Rei (2018), onde, mesmo com menos tempo de tela, sua presença irradiava a mesma maestria de sempre. A cada trabalho, Cuoco imprimia sua marca inconfundível, seja na leveza da comédia ou na intensidade do drama.
O Profissionalismo e o Legado de um Mestre
Francisco Cuoco não era apenas um ator de grande talento; ele era um profissional admirado e respeitado por toda a classe artística. Nos bastidores, era conhecido por sua disciplina rigorosa, pontualidade britânica e um profundo respeito pelo trabalho de toda a equipe. Sua generosidade em compartilhar sua vasta experiência e conhecimento com os colegas mais jovens era uma de suas qualidades mais valorizadas. Muitos atores e atrizes que hoje brilham na TV tiveram em Cuoco um mentor e uma inspiração.
Sua longevidade na carreira, que atravessou diferentes fases da televisão brasileira, é um testemunho de sua resiliência e paixão. Ele soube se reinventar, acompanhar as mudanças do mercado e manter-se relevante, provando que a arte não tem idade. Mesmo com a idade avançada, sua paixão pela atuação nunca diminuiu, e ele continuou trabalhando até onde sua saúde permitiu.
A notícia de seu falecimento ecoou rapidamente, gerando uma onda de comoção e homenagens. Artistas, diretores, produtores, fãs e amigos manifestaram seu luto e sua gratidão nas redes sociais e na imprensa. Mensagens de carinho e reconhecimento ressaltam não apenas o gigante da atuação que ele foi, mas também a pessoa íntegra e gentil que Francisco Cuoco representava.
O Adeus a um Ícone, A Celebração de uma Vida
O velório de Francisco Cuoco será aberto ao público nesta sexta-feira, 20 de junho, no Funeral Home, em São Paulo, permitindo que fãs e admiradores possam prestar suas últimas homenagens a um artista que tanto contribuiu para a cultura nacional. O enterro, no entanto, será restrito a familiares e amigos, em um momento de dor e despedida mais íntimo.
A partida de Francisco Cuoco é, sem dúvida, um momento de profunda tristeza. Mas é também uma oportunidade para celebrar uma vida extraordinária e um legado artístico que permanecerá eterno. Suas novelas, suas cenas e seus personagens são um tesouro da memória televisiva brasileira, que continuarão a ser revisitados e admirados por novas gerações.
O sorriso inconfundível, o olhar que dizia mais que mil palavras e a voz que embalou tantas emoções serão eternamente lembrados. Francisco Cuoco se despede dos palcos terrenos, mas seu brilho continuará a iluminar a história da teledramaturgia brasileira. Que sua passagem seja de luz e que seu legado inspire futuros artistas a trilharem caminhos de dedicação e excelência.