Paris, França – Em meio a uma agenda intensa de compromissos econômicos e políticos na capital francesa, em nossa riqueza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez questão de dedicar um momento especial ao que ele mais valoriza como patrimônio nacional: a sua cultura. Na última sexta-feira, 6 de junho de 2025, Lula esteve na abertura da exposição “Nosso Barco Tambor Terra”, do renomado artista brasileiro Ernesto Neto. Esse evento não foi apenas um mero formalismo; ele marcou o grandioso lançamento do Ano Cultural Brasil-França, uma iniciativa forjada em 2023 com o presidente francês Emmanuel Macron, simbolizando uma profunda retomada da diplomacia cultural brasileira no cenário internacional.
O entusiasmo do presidente Lula se refletiu em suas declarações, ecoando o orgulho de uma nação que volta a exibir sua riqueza cultural: “Neste ano estamos exportando para a França o que considero uma das maiores riquezas da nação brasileira: a nossa cultura. Após um acordo firmado por mim e pelo presidente Macron, ficou determinado que 2025 seria o Ano Cultural Brasil-França, em celebração aos 200 anos de relações diplomáticas entre nossos países.” Mais do que um intercâmbio de obras, este Ano Cultural representa a reconstrução de pontes e a reafirmação do Brasil como uma potência cultural vibrante e essencial no diálogo global.
A Cultura como Pilar Estratégico da Política Externa
A presença de Lula na exposição de Ernesto Neto, em meio a tantos compromissos de Estado, sublinha uma virada decisiva na política externa brasileira. Longe de ser relegada a um segundo plano, a cultura agora é vista como um instrumento diplomático poderoso e estratégico. Ela é a ferramenta capaz de abrir diálogos, aproximar povos e projetar a imagem do Brasil com uma profundidade que transcende as negociações econômicas e os acordos políticos.
Em tempos passados, a dimensão cultural da diplomacia brasileira, embora sempre presente, por vezes perdeu o destaque e o investimento necessários. A atual gestão, sob a liderança de Lula, demonstra uma compreensão aguçada de que a cultura não é um gasto, mas um ativo inestimável. Ela gera o que se chama de soft power, atraindo investimentos, estimulando a economia criativa, impulsionando o turismo e, fundamentalmente, fortalecendo laços diplomáticos baseados na empatia e no entendimento mútuo. Ao valorizar e exportar sua produção artística, o Brasil não só celebra sua própria diversidade, mas convida o mundo a um diálogo mais humano e inclusivo.
Ernesto Neto: A Conexão Amazônica que Toca Almas em Paris
A escolha da obra de Ernesto Neto para inaugurar o Ano Cultural Brasil-França é repleta de significado. Neto não é apenas um artista; ele é um dos nomes mais respeitados da arte contemporânea global, cujas instalações imersivas são conhecidas por tecer narrativas complexas que abordam espiritualidade, ancestralidade, a intrínseca relação humana com a natureza e a urgência da ecologia. Suas criações, frequentemente confeccionadas com materiais orgânicos e formas que remetem à natureza, convidam o público a uma experiência multisensorial e profundamente reflexiva, que transcende as barreiras convencionais da arte.
A instalação “Nosso Barco Tambor Terra” é um exemplo primoroso dessa capacidade de envolver. O presidente Lula expressou a potência da obra: “Esta obra reúne instrumentos e elementos sensoriais que criam uma linguagem universal, capaz de ir além das palavras e aproximar culturas e sentimentos. A cultura brasileira cruzou os oceanos e está construindo pontes e tocando corações ao redor do mundo.” A arte de Neto, que muitas vezes incorpora elementos e sabedorias da cultura indígena brasileira, oferece uma janela para a riqueza de pensamento e a complexidade cultural do Brasil, ressoando com temas universais de conexão, coexistência e respeito ao planeta.
Em um mundo saturado de informações digitais, as obras de Ernesto Neto se destacam por promoverem uma experiência tátil, olfativa e auditiva. São convites à imersão, ao toque, ao cheiro e à escuta, criando um ambiente que vai além do meramente visual. Essa experiência sensorial aprofundada é extremamente valiosa, pois promove um engajamento mais íntimo com a proposta artística e, por extensão, com os valores e a identidade da cultura brasileira que a obra representa.
Uma Agenda Multifacetada: Celebrando o Bicentenário de Relações
O Ano Cultural Brasil-França, que comemora os 200 anos de relações diplomáticas entre as duas nações, é um programa ambicioso e diversificado que vai muito além da exposição de Ernesto Neto. Ele se desdobrará em uma extensa agenda de eventos ao longo de todo o ano de 2025, com atividades programadas tanto em território francês quanto em diversas cidades brasileiras. Essa programação abrangente foi cuidadosamente pensada para oferecer ao público de ambos os países um panorama rico e variado da produção criativa brasileira e francesa.
As áreas contempladas demonstram a amplitude e a diversidade desse intercâmbio:
- Música: Do samba ao choro, da bossa nova à música clássica contemporânea, explorando a pluralidade de ritmos e melodias brasileiras.
- Cinema: Retrospectivas de grandes diretores, mostras de filmes independentes e debates sobre a produção cinematográfica brasileira atual.
- Gastronomia: Festivais, workshops e experiências culinárias que apresentarão a diversidade dos sabores brasileiros, desde a culinária regional até a alta gastronomia, com foco em ingredientes sustentáveis.
- Teatro: Apresentações de peças clássicas e contemporâneas, explorando as diversas linguagens e vertentes do teatro brasileiro.
- Literatura: Lançamento de obras de autores brasileiros em tradução, encontros com escritores renomados e emergentes, participação em feiras de livros e debates sobre a riqueza temática e estilística da literatura brasileira.
- Moda: Exposições e desfiles que mostrarão a criatividade e a sustentabilidade da moda brasileira, com foco em design, tecidos e técnicas inovadoras.
- Artes Visuais: Além da emblemática exposição de Neto, outras mostras de pintura, escultura, fotografia, videoarte e instalações, que revelarão a vitalidade e a constante experimentação da cena artística brasileira.
Essa agenda multifacetada é vital para romper com estereótipos e apresentar a complexidade, a modernidade e a inovação da cultura brasileira, que se estende muito além dos clichês folclóricos. É uma oportunidade ímpar para mostrar o dinamismo cultural do país e sua capacidade de dialogar com as tendências globais, ao mesmo tempo em que preserva suas raízes profundas e sua identidade única.
O Renascimento Cultural na Cena Internacional
A ênfase na diplomacia cultural sob o governo Lula representa uma guinada significativa em comparação com os períodos anteriores, nos quais a pauta cultural nas relações internacionais foi, em grande parte, negligenciada ou desvalorizada. Esse afastamento teve um custo considerável, não apenas em termos de projeção da imagem do Brasil no mundo, mas também na perda de valiosas oportunidades de intercâmbio intelectual, cooperação artística e desenvolvimento conjunto.
Para a atual administração, a cultura é um componente inseparável do projeto de um Brasil mais altivo, respeitado e influente no cenário global. Ela é vista como um veículo poderoso para promover a paz, a tolerância, o respeito à diversidade e a empatia entre os povos – valores que se tornam cada vez mais essenciais em um mundo que enfrenta crescente fragmentação e conflitos. O presidente Lula tem reiterado que investir em cultura não é um gasto supérfluo, mas um investimento estratégico que gera soft power, atrai turismo, estimula a economia criativa e fortalece laços diplomáticos.
Durante sua estadia em Paris, Lula não se limitou à visita da exposição. Ele também participou ativamente de encontros com empresários e representantes do vibrante setor cultural francês. Nessas reuniões, defendeu veementemente uma maior integração e cooperação entre os dois países na produção de conteúdo cultural e criativo. A visão é a de fomentar parcerias que possam gerar benefícios mútuos, como coproduções cinematográficas, programas de intercâmbio artístico, residências criativas e investimentos no setor da economia criativa. O objetivo final é criar um ecossistema cultural global que não apenas celebre a diversidade, mas que também seja um motor de desenvolvimento econômico e social.
A mensagem de Lula é inequívoca: a cultura brasileira, em toda a sua riqueza, profundidade e diversidade, está de volta ao centro do palco da diplomacia. Com o Ano Cultural Brasil-França, o país busca não só reintroduzir-se vigorosamente no diálogo cultural global, mas também reafirmar sua identidade única e seu papel proativo na construção de um mundo mais justo, plural e profundamente conectado pela arte, pela criatividade e pelo intercâmbio de ideias.